O Papa Francisco nomeou nesta terça-feira uma comissão para
estudar a possibilidade de permitir diaconisas, uma questão que divide a Igreja
e que representaria uma mudança histórica para a instituição.
Os diáconos são o primeiro degrau da hierarquia católica.
Embora tenham autorização para pronunciar sermões durante a missa e oficiar
batizados, casamentos e funerais, não estão autorizados a celebrar a eucaristia
ou a ouvir a confissão dos fiéis, como os padres.
A comissão está formada por 13 pessoas, sete homens e seis
mulheres, e estudará, em especial, o papel das mulheres que exerceram esta
função durante os primeiros anos da Igreja Católica, mesmo que alguns esperem
igualmente recomendações sobre dar maiores responsabilidades à mulheres.
Os defensores da medida argumentam que as mulheres estão
sub-representadas dentro da Igreja e que não existe nenhum obstáculo teológico
para que voltem a exercer uma função que tiveram nas origens do cristianismo.
Em maio, o pontífice abordou a questão durante uma conversa
com mulheres de várias ordens religiosas e disse que "seria bom" que
a Igreja esclarecesse o ponto. Ao mesmo tempo reafirmou não acreditar que as
mulheres possam ser padres, ideia que já havia sido rejeitada de maneira
categórica por alguns de seus antecessores.
"Acredito que haverá um debate feroz. Sobre este
assunto, a Igreja está dividida", prevê o cardeal Walter Kasper, um
teólogo alemão próximo do papa.
Mas no avião que o trouxe da Armênia no final de junho, o
papa procurou acalmar os ânimos, assegurando que os meios de comunicação haviam
deformado sua fala, evocando um possível acesso das mulheres ao diaconato sob a
forma atual.
"Isso não é verdade", insistiu.
"Após uma oração intensa e muita reflexão, sua
Santidade decidiu instituir a comissão de estudo sobre o diaconado das
mulheres", anunciou nesta terça o Vaticano em um comunicado antes de
publicar a lista de membros.
O Vaticano não informou quando a comissão iniciará os
trabalhos nem quando apresentará as conclusões.
'Um bom sinal'
Presidida por Dom Luis Francisco Ladaria Ferrer, um jesuíta
espanhol secretário da Congregação para a Doutrina da Fé, a comissão reúne
sacerdotes, religiosos e especialistas acadêmicos.
A maioria são europeus ou americanos, mas a comissão também
conta com um padre de Ruanda.
"É uma comissão ótima, muito equilibrada, com perfis
variados, mulheres muito preparadas e de inclinações diferentes, ao mesmo tempo
progressista e conservadora", elogiou à AFP a historiadora Lucetta
Scaraffia.
Sem um progresso sobre a possibilidade de que os trabalhos
levem a uma abertura do diaconato para as mulheres, esta especialista das
mulheres na Igreja considera que a criação desta comissão já é "um bom
sinal, encorajador".
O diaconato era uma etapa para o sacerdócio, mas o Concílio
Vaticano II (1962-1965) restabeleceu o diaconato permanente, acessível a homens
casados, que muitas vezes compensam a falta de sacerdotes ou os auxiliam.
Em 2014, de acordo com as últimas estatísticas disponíveis,
a Igreja contava com 44.500 diáconos permanentes (para 415.000 padres), 33% a
mais que em 2005, principalmente na América do Norte e Europa.
Muitas pesquisas históricas revelaram que as mulheres podiam
ser diáconas nos primeiros séculos do cristianismo. Mas parece que o seu papel
era semelhante aquele realizado atualmente pelas freiras nas paróquias.
O papa Francisco já evocou várias vezes o seu desejo de
remediar a desigualdade entre homens e mulheres no exercício das
responsabilidades dentro da Igreja, reafirmando, no entanto, a oposição da
instituição à ordenação das mulheres.
Ele tem procurado incentivar a influência teológica das
mulheres e já afirmou que uma mulher poderá em breve dirigir um dicastério (ministério)
da Cúria.
"As mulheres são como os morangos em um bolo, é preciso
sempre mais", brincou durante uma reunião com teólogos em dezembro de
2014.
Com entre 700.000 religiosas e leigas, as mulheres são
maioria entre aqueles que trabalham na vida cotidiana das paróquias, mas estão
sujeitas a um membro masculino do clero.